Brena Vila Nova
especial para o Jornal VANGUARDA
Em 1982, no Sesc Caruaru, Prazeres
Barbosa começou seu encontro com o teatro. Na época, o ator Severino
Florêncio passou a ser seu aliado na arte de atuar. Em 2014, ela completa 32
anos de carreira como atriz. No currículo, Prazeres acumula participações em
sete seriados, 11 novelas e 21 filmes. Hoje, morando no Rio de Janeiro (RJ) e
integrando o seleto elenco da Globo, a caruaruense relembra, na segunda
entrevista da série sobre gestão cultural, o início da carreira e os desafios
que enfrentou para seguir em frente.
Jornal VANGUARDA - Por ter começado como atriz em Caruaru, como você avalia os
incentivos das gestões públicas em arte na cidade?
Prazeres Barbosa - Desde 1982, quando me descobri atriz, a classe artística nunca teve tempo farto, nem investimentos legais das gestões públicas. Arte nunca foi um segmento que atraiu os sentidos dos governantes. Talvez, devido ao desconhecimento da importância disso na formação do indivíduo como cidadão. Quando se está no poder, os gestores esquecem que sua primeira formação de vida social ocorreu em sala de aula. Os primeiros amigos. O primeiro aprendizado. Os primeiros limites, movimentos, desenhos, canções, emoções, que indiscutivelmente resultam nos gostos, preferências e posicionamento social. Independente da gestão política, nunca aceitei o termo "ajuda", pois artista não precisa de ajuda; precisa de trabalho para sobreviver; pagar suas contas e cumprir com suas funções em prol do crescimento de uma sociedade de mente esclarecida. Portanto, política pública cultural já! Com relação a prefeitos, sempre tivemos relações respeitosas. Todos eles, em seu tempo, apoiaram timidamente viagens de grupos a festivais, porque estavam enaltecendo o nome da cidade. Os governantes precisam ter conhecimento do valor da cultura do seu povo.
JV - Qual é o primeiro passo para uma política pública cultural
numa cidade como Caruaru?
PB - Acredito no poder da união. É necessário a junção da classe artística em todos os segmentos, e cobrar "ferrenhamente" seus direitos como artista e como cidadão. Sozinhos ou divididos, somos invisíveis. Precisamos, unidos, fazer valer nosso potencial e exigir direitos. Eu sempre acreditei que há recursos para todos os segmentos de uma gestão pública. Vamos cobrar a parte que nos toca! Se o artista fosse visto como peça fundamental para o crescimento cultural da cidade, não teríamos tanta violência e perda da infância. Fora isso, é conversa fiada!
JV - Por que os caruaruenses ainda não conhecem os artistas
caruaruenses? Falta plateia?
PB - Por falta de embasamento artístico cultural nas escolas públicas. Somos e gostamos daquilo que nos foi apresentado na infância. O que se anda ensinando e o que se anda aprendendo? Já estamos sentindo esse déficit há décadas. E o poder público fecha os olhos, achando que não vale a pena esse tipo de investimento. Existe disciplina que estimule a valorização do ser humano, como ser criativo e inovador? Por onde anda a descoberta de novos poetas, escritores, intérpretes, pensadores? Só a arte é capaz disso! Será que vamos ter que conviver com essa indiferença por mais tempo? Acorda, Caruaru!
JV - Lendo sua biografia, percebi uma mulher de personalidade e firme
senso crítico com relação à vida, à arte e à política. Em uma cidade como
Caruaru, você não teve medo de ser mal vista na época em que decidiu ser
atriz?
PB - Aprendi, com o tempo, a não dar tanta importância à "opinião" dos que não gostam de mim; ela será sempre tendenciosa! Sou daquelas que não dá chance a "futricas ou fofocas". Minhas falhas, meus deslizes, minhas fraquezas, eu mesma exponho. De resto, os que me censuram ou falam mal de mim é que, no íntimo, gostariam de ter um pouquinho de mim em si.
JV - Você acredita que os artistas, muitas vezes, se tornam reféns
da politicagem com medo de combatê-la?
PB - Sou terminantemente avessa a esse tipo de domínio. Somos seres livres, por essência, e como tal não devemos nos submeter à massa de manobra. Os que se submetem jamais chegarão a lugar algum. Como artista, aplaudo os bons feitos, critico os desatinos e rejeito a incoerência. Minha camisa não tem cor, tem dignidade. Capricho, para jamais fazer número; farei a diferença.
JV - Também é muito difícil convencer a iniciativa privada da
cidade a investir em arte e lazer. Por que os empresários não acreditam que
esse tipo de investimento é uma opção rentável, visto que envolve a
responsabilidade social com quem vive e consome na cidade?
PB - Os empresários não têm conhecimento da importância que a arte pode ter. Somos o que aprendemos em casa e na escola, quando criança. Eles não aprenderam. O foco deles não é arte, é rentabilidade sem arte. É por isso que implico na urgência da mudança pedagógica e educacional. Nossa geração está engessada neste sentido. Eles são fruto de uma educação truncada e de um governo indiferente à transformação humana. Descobri, infelizmente, que querer educar adultos é "malhar em ferro frio". Ainda temos tempo. Salvem nossas crianças!
JV - O que mais causa decepção no mundo da arte e o que mais te
orgulha ao fazer parte desse mundo de luz, câmera e ação?
PB - Minha maior decepção é com os que podem fazer a diferença e não fazem por covardia e descrença no que poderia ser e não é. Já o que representa motivo de orgulho é compreender meu ser único no que posso fazer e ser. O artista não precisa de permissão nem ser eleito para existir. Ele existe.
JV - Qual é o segredo para o sucesso?
PB - Aproveitei o momento e fiz uso de certos predicados que me acompanharam a vida inteira como atrevimento, destemor, ousadia, confiança, disciplina, insubordinação à mediocridade e perseverança. Sonhei, criei asas e voei no tempo certo, no momento exato; embalada pelos ventos favoráveis. Não há varinha de condão. Há confiança, determinação e sonhos. Sonhei. Acreditei. Realizei.
JV - Que recado você deixaria para os artistas de Caruaru que se
sentem acuados e sem força para prosseguir com o amor à arte? É possível
realizar um sonho que se sonha junto?
PB - Sozinhos, somos um pouco do quase nada. Reivindicar em parceria ainda é o melhor caminho. O individualismo nos torna frágil e sem voz. Um sonho que se sonha só, solitário será para sempre. No mais, é se unir e correr para o abraço. Nunca me debrucei nos braços da desesperança, porque ela não tem braços.
JV - Na sua opinião, é possível um artista de Caruaru se sentir
realizado morando, vivendo e fazendo arte em Caruaru com as coisas da nossa
terra e para nossa terra?
PB - Certamente que sim! Fiz isso durante 25 anos, mas sobrevivia do salário de professora. Mudar de lugar ou voar adiante é uma questão pessoal, que requer garra e coragem. Quando queremos ir, não precisa que ninguém empurre. Apenas vamos. Quando duvidamos da nossa capacidade ou deixamos as decisões nas mãos dos outros, anulamos a nós mesmos e a ilusão de sonhar se distancia.
JV - Morando numa cidade como o Rio de Janeiro, que tem tanto a
oferecer ao turista o ano inteiro, que recado você deixaria para os gestores
de Caruaru que precisam pensar no movimento turístico o ano inteiro e não só
durante o São João?
PB - Acho que até o São João tem mudado, não? Eram 40 dias, depois 30, 27... E agora 17 dias. Sem trem, sem ônibus, sem voos, sem desfile, sem drilhas, sem concursos, sem ruas enfeitadas e competitivas, sem casas de forró, sem pé-de-serra espalhados na cidade e recebendo turistas, sem tradições folclóricas, sem fogueira e fogos iluminando as ruas, sem concurso de quadrilhas nas escolas, praças e palcos, sem adivinhações nas fogueiras, sem o milho assado em frente de casa. Sem quase nada, e com o agravante de ter hora para começar e terminar a festa. E olhe que é o único investimento de peso que a cidade faz numa festa popular, proclamada como a maior e melhor do mundo! Desculpem o desabafo, mas como falar em turismo quando a única bandeira levantada - o São João de Caruaru - anda nesse pé? Precisamos entender esse mistério. Como andam os investimentos no Alto do Moura, no Monte do Bom Jesus, na Feira de Artesanato, nas bandas marciais, nos museus, nos parques ecológicos? E o Teatro Municipal? Onde está? Não tenho como responder a sua pergunta.
JV - Teve um ano que encontrei você no São João de Caruaru,
enquanto eu estava trabalhando entre um camarote e outro. E, na ocasião,
ocorreu um intervalo no palco principal e nesse meio tempo entrou uma ação
promocional de uma bebida com personagens do filme "Alice no País das
Maravilhas" e o repertório era música eletrônica. Lembro a sua reação escandalizada
com aquilo em pleno palco principal do São João. A cada ano, a festa tem
perdido sua originalidade? Perde Caruaru e perde o turista?
PB - Sem sombra de dúvida, perde Caruaru, perdem os turistas, perdem as lideranças políticas e, principalmente, o povo da cidade. Sou "bairrista" por amor à minha cidade. Ostento seus valores e pudores, mas não me furtarei aos seus percalços. Legitimidade e originalidade sempre foram bandeiras levantadas por décadas a fio. Enquanto nos achavam "pacatos", fazíamos a maior festa junina do Nordeste. É só fazer uma retrospectiva e comprovar. Era São João na cidade, nas ruas, nos bairros, nas praças, nas escolas... Eita saudade da cachorra da moléstia! |
Prazer em Conhecer
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Entrevista: “Nossa geração está engessada”
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Bastidores do novo filme
A atriz Prazeres Barbosa está filmando mais um longa para o cinema nacional. Por enquanto, as informações sobre o novo trabalho ainda não foram divulgadas. Mesmo assim, a artista compartilhou com seus fãs, no Facebook, uma foto com o ator Danton Melo, com quem filmou algumas cenas. "Foi um dia cansativo, mas muito proveitoso, graças a Deus!", escreveu Prazeres. Em breve, novidades sobre o novo trabalho.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Em entrevista a blogueiro, Prazeres comenta homenagem no Curta Taquary e fala sobre o cinema brasileiro
Do BNC, Por Aluysio
Morais
Foi encerrada, com chave de ouro, a 6ª
edição do FESTIVAL NACIONAL DE CURTA METRAGEM – 6º Curta Taquary - grande
evento realizado em Taquaritinga do Norte ou ‘Dália da Serra’, como é
popularmente conhecida. Fica a 1086m acima do nível do mar, a 190km do Recife.
Como não podia ser diferente, a grande homenageada do dia é a Atriz e Diva do
Teatro Pernambucano, Prazeres
Barbosa que não mediu esforços, tendo viajado
2.200km para chegar até Taquaritinga-PE.
Com o sentimento de dever cumprido, Prazeres Barbosa, se despediu, dia 8/11, deixando uma enorme saudade a todos aqueles que fizeram parte do 6º Taquary, além dos seus fãs, que desde cedo estiveram a espera da Diva para terem autógrafos e fotografar ao lado da estrela global.
Aluysio Morais – Como você se sente sendo homenageada no último dia da 6ª edição do Curta Taquary? É um privilégio à parte?
Prazeres Barbosa – Toda homenagem tem
um sentido especial, pois deferência, em vida, tem cor, cheiro, gosto e
textura. Sinto-me privilegiada, pois grandes seres humanos nascem e morrem sem
ter seus feitos ou conquistas referendadas. Ramalhete, em vida, rega-se e
conserva-se em seu hábil, num vaso de cristal!
Aluysio Morais – Durante nossa entrevista, percebi o enorme carinho que o público jovem tem com você, isso ficou constatado visto da fachada do hotel. Como você se sente diante desse público que tem um enorme carinho por você?
Prazeres Barbosa – Tenho cuidado, por
onde passo, deixar marcas positivas. Percebo que é fruto de uma convivência
salutar, com pessoas simples, como eu, e isto as aproxima sem protocolo.
Acolho-as com o maior carinho do mundo. Faço parte da vida delas, literalmente!
Aluysio Morais – O que significou ter sido convidada por Alexandre Soares para ser homenageada no Curta Taquary 2013?
Prazeres Barbosa – Beirando 32 anos de
carreira artística, ininterrupta, tenho conquistado troféus, prêmios,
homenagens, títulos, telas, esculturas e um somatório de deferências. Quando
Alexandre me cientificou da homenagem, a primeira coisa que questionei foi
sobre o merecimento, pois não me sinto a altura deste patamar. Ele falou que
era inquestionável e que eu seria voto vencido. Sorrimos e agradeci de coração.
Farei todo possível pra fazer jus à comenda!
Aluysio Morais – Como você vê hoje o
cinema brasileiro, uma vez que é notório uma grande evolução nas produções,
como ‘O Auto da Compadecida’, ‘Tropa de Elite 1 e 2’ onde você teve
participação no 2, enfim?
Prazeres Barbosa – Acredito que estamos
no tempo áureo do cinema brasileiro. Nosso produto deixou, há muitos anos, de
ser “chanchada” pra ser referência, isto devido à qualidade do que se está
produzindo aqui no Brasil. As casas de exibição vêm provando isto. Quem produz
com qualidade, o reconhecimento chega, com grandes ou parcos incentivos. A
galera do cinema chegou pra abalar! BRAVO!
Aluysio Morais – Fechando com chave de ouro a 6ª Edição do Curta Taquary, e sendo a principal homenageada, como você está se sentindo nesse momento?
Prazeres Barbosa – Ando sorrindo a toa.
[risos] Na abertura do evento fui intitulada “Madrinha do Festival” pelo seu
realizador, Alexandre Soares, com o agravante de ser uma dos três homenageados
(Zé Dumont e Jean Claude Bernardet e Prazeres Barbosa). Sinto-me feliz, e cada
dia mais responsável pelo meu caminhar, como pessoa e como atriz, vez que
estamos sendo referência. Espero em Deus, não decepcioná-los!
Aluysio Morais – Você já conhecia Alexandre Soares, diretor e produtor-executivo do Festival Nacional de Curta Metragem?
Prazeres Barbosa – Desde 1982, quando
iniciei minha carreira artística no SESC-Caruaru, tive o privilégio de me
tornar conhecida na Região e no Estado, por ser premiada em todos os
espetáculos em festivais nacionais, e isto contou em nosso favor. Alexandre,
naqueles tempos, bem jovenzinho, participava de Congressos da FETEAPE, então
éramos conhecidos na arte. Na primeira versão do Taquary, ele me convidou pra
ser júri do Festival. De lá pra cá nunca mais nos encontramos, então esta
homenagem me surpreendeu, pois geralmente lembramo-nos dos que estão por perto,
não é mesmo? Estou grata pela deferência!
Aluysio Morais – Viajar 2,200km, passar cinco dias participando de entrevistas para vários meios de comunicações, tirando fotos com fãs, toda aquela correria, enfim..., e ainda por cima, preservar tanto bom humor. Como isso é possível?
Prazeres Barbosa – Não me sinto fazendo
nenhum esforço, pois sou naturalmente igual em todos os momentos. Uns elegem o
choro, outros a mágoa, e outros tantos o desgosto e insatisfação pela vida; Eu elegi
a alegria, a felicidade, o otimismo, o sorriso. Tudo muito fácil e simples.
Concordam?
Aluysio Morais – Como você descreve
nesse momento os idealizadores, diretores, atores e demais realizadores dessa
6ª edição do Curta Taquary?
Prazeres Barbosa – São todos
guerreiros, sonhadores, otimistas e criadores incansáveis! Para todos eles,
tiro o meu chapéu! São jovens que não têm medo de ousar e defender uma causa,
ultrapassando todas as diversidades em defesa dos seus sonhos, dos seus
propósitos. AVANTE, CAMARADAS!
Aluysio Morais – O que passou na sua cabeça no momento que você encenou um trecho da pela A Feira, de Lourdes Ramalho e foi aplaudida de pé por todos que ali estavam?
Prazeres Barbosa – Quando interpreto
sinto-me inteira no personagem. Não preciso de cenário, figurino nem trilha
sonora. O público absorve isto e aplaude, simplesmente! [risos]
Aluysio Morais – Qual sua reação ao se deparar com o grandioso jornalista caruaruense Fernando Neto, autor da sua Biografia ‘Prazeres em Conhecer’ quando o mesmo subiu ao palco, para anunciar sua homenagem?
Prazeres Barbosa – Foi mais uma das
mais felizes surpresas, quase desmaiei de emoção. Isto não estava previsto!
[risos] Fernandino é um jornalista/humanista, que referenda seu trabalho com
determinação e convicção, fundamental a qualquer escritor. Tive o privilégio de
ser biografada por ele, como trabalho do TCC, na FAVIP, em Caruaru-PE. Foi o
laureado da turma e recebeu nota 10, com menção honrosa, pois o livro foi
editado com o aval da Faculdade e do professorado. Hoje, posso dizer estar
imortalizada, pois ele é o responsável direto! Obrigada, Fernandino Neto!
Aluysio Morais – Uma frase:
Alexandre Soares: o mentor de tudo
Nada teria acontecido - o Festival, muito menos a homenagem -, não fosse o talento e a perseverança dele: Alexandre Soares, o grande idealizador do Curta Taquary. Um jovem apaixonadíssimo por cinema, que transformou Taquaritinga na Gramado pernambucana. Força de vontade e muito amor à sétima arte definem a personalidade de Alexandre Soares. Na foto, ela observa Prazeres Barbosa durante o festival.
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