quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Confira, na íntegra, texto da revista Continente

Cooperação

Foi A Pedra do Reino que despertou na veterana Prazeres Barbosa o desejo de mudança. Grande nome do teatro de Caruaru, no agreste pernambucano, ela sempre sonhou em atuar na TV, mas o comando de seu grupo de teatro e a participação em filmes como Árido Movie e Espelho D’água acabavam tomando todo o seu tempo. Quando a produção da Pedra aterrissou em Taperoá, na Paraíba, a atriz largou tudo e se mandou para lá. “Eu não tenho papel para você, mas se arrisca a ficar?”, indagou o diretor. Prazeres entrou no esquema de cooperativa e, durante dois meses, fez de tudo, menos atuar. “As pessoas não acreditavam como eu me sujetiva a tudo aquilo”, conta.

O esforço valeu. Próximo ao fim da empreitada, um ator desistiu e nada menos que dois personagens masculinos, os gêmeos Comendador Basílio e Eusébio Monturo, ficaram sem intérprete. E Carvalho apostou nela. “Eu tinha um cabelão, contaram todo, quase morri. Mas, dentro de mim, dizia: “Amém, meu Deus”. Quando apareci caracterizada, ele gostou tanto, que ainda me deu outro presente: criou uma prostituta chama da Prazeres para eu fazer. Quer nome mais sugestivo do que o meu?”, brinca a atriz.

Hoje, aos 62 anos, há cinco vivendo no Rio de Janeiro, Prazeres não se arrepende da aventura. Não tem contrato fixo com a Globo, vive do salário de professora aposentada e divide as despesas com o marido e o filho. “A vida artística não é só o pódio. Estou dando os primeiros passos numa nova carreira”. Por conta do tipo físico - baixinha, com traços fortes de sertaneja -, a atriz tem colecionado papéis de doméstica, fato que não diminui sua perseverança. No último trabalho de longa duração, a novela Insensato Coração, contracenou com dois de seus maiores ídolos: Tarcísio Meira e Glória Pires. “Isso não tem preço. Eles não fazem distinção se o ator é ou não é conhecido. Receberam-me de braços abertos, trataram-me como igual. E estou falando de dois monstros sagrados”, conta ela, que interpretava a copeira Amélia.

“Os papéis de doméstica podem não dar maiores chances, mas não me sinto diminuída. Faço como se fosse a protagonista. Adoro quando o meu celular toca e vejo que é um número confidencial. Sei que é da Globo e que um novo trabalho está à minha espera. Ainda acredito que alguém vai perceber que posso fazer outra coisa”. Pelo menos uma pessoa, além de Luiz Fernando Carvalho, já conhece bem o talento de Prazeres: o diretor João Falcão. Quando adaptou a peça A Máquina, escrita por Adriana Falcão, João criou para ela uma personagem chamada... Prazeres. E ainda lhe deu a chance de cantar. Não só em cena, mas também no CD que contém a trilha. A música se chama A natureza das coisas, cuja letra a atriz toma como uma oração: “Se avexe não, observe quem vai subindo a ladeira, seja princesa ou seja lavadeira, pra ir mais alto vai ter que suar”.

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