Por Igor da Nóbrega do Blog Mais Agreste
A 6ª edição do
Festival Nacional de Curta Metragem está chegando ao fim, nesta sexta (8), com
o sentimento de dever cumprido. Para se despedir em grande estilo do público,
dos idealizadores, diretores, atores e demais realizadores da sétima arte, o
Curta Taquary prestará uma homenagem à Prazeres Barbosa, uma dos principais
ícones do cinema pernambucano. Ao lado de Jean-Claude Bernadet e José Dumont, a
atriz de Caruaru, cidade do Agreste pernambucano, integrará o hall da fama
deste ano, uma vez que seu trabalho é reconhecido, cada vez mais, diante das
atuações cinematográficas, através de curtas e longas-metragens.
Através disso,
Prazeres Barbosa conversou com o jornalista Igor da Nóbrega e expressou sua
alegria em participar de um dos principais festivais de cinema do Nordeste. A
atriz falou ainda do crescimento das produções locais e nordestinas, que, mesmo
diante das dificuldades, conseguem imprimir trabalhos de qualidade e que não
deixam à desejar em relação aos filmes produzidos em outros países.
Confira a entrevista
na íntegra:
Mais
Agreste – Como é viajar mais de 2.200 km e desembarcar no Curta Taquary, que é
considerado hoje um dos principais festivais de cinema da atualidade?
Eu inicio dizendo
que é muito bom voltar para casa, chegar em casa e ter o nosso travesseiro e
cama para dormir. Isso é uma delícia e assim que eu considero Taquaritinga do
Norte, que fica próxima a minha cidade Caruaru, no qual eu amo. Faço questão de
dizer isso. Quanto à questão de ser homenageada e viajar tantos quilômetros, eu
digo que cada momento é distinto. Em nenhum deles você deixa de ficar ansioso.
Eu agora mesmo estava pensando nisso, numa ansiedade do momento, de ser
privilegiada. Eu sempre digo que bem aventurado o ser humano que tem a
capacidade de elogiar ou homenagear quem está vivo. Ser homenageada em vida dá
um significado para sua existência na terra e é assim que eu me sinto. Eu me
sinto mais gente, eu me sinto mais querida, eu me sinto mais amada, porque
existem pessoas que acumulam dinheiro. Outros acumulam coisas materiais, mas eu
optei por acumular “amigos” e é por conta disso que as coisas acontecem.
Mais
Agreste – Como foi receber o convite, através de Alexandre Soares, para ser
homenageada no encerramento do 6º Curta Taquary?
Eu questionei a
Alexandre de que não merecia esta homenagem. Eu não acho que mereço tanto, pois
será uma homenagem muito grande para uma pessoa que não tem tanta notabilidade.
Contudo, segundo Alexandre, eu faço parte do universo artístico de Pernambuco.
Segundo ele, é porque eu estou num momento bom artisticamente. Segundo ele, eu
sou uma pessoa que conseguiu cativá-lo, como também outras pessoas. De antemão,
mesmo achando que não mereço, eu agradeço de coração e espero não decepcionar,
porque uma das melhores coisas do mundo é alguém acreditar e confiar em você,
sem nunca se arrepender disso.
Mais
Agreste - Quanto à estética e produção, você acredita que os filmes locais
e nordestinos têm ganho uma conotação expressiva, nos últimos anos, frente ao
cinema nacional?
Eu acho que o
cinema nacional está embarcando para uma vertente maior e melhor. Durante os
três dias que venho acompanhado o festival, o que eu percebo que existe uma
surpresa e uma técnica diferente em cada momento. Existe ainda uma aproximação
mais perto do “silêncio”. Eu sou o tipo de atriz que privilegio o silêncio à
palavra. Na oficina em que ministrei aqui no Curta Taquary, na segunda e
terça-feira, eu chamei o silêncio das palavras. Ontem eu fiquei embevecida
quando eu vi aqueles filmes tão bem produzidos, com tão pouca fala, mas tão bem
feitos. Enfim, naquele momento, algo dentro de mim me disse que eu estava
trilhando no caminho certo. Estou feliz porque o cinema brasileiro, seja curta
ou seja longa, está tendo uma nova temática de exploração. Nós estamos partindo
para problemas sociais, de uma forma limpa, de uma forma clara, e é disso que o
Brasil precisa assistir.
Mais
Agreste - Na edição do Curta Taquary deste ano, Alexandre Soares
oportunizou outros Estados, que não têm tanta projeção frente ao cinema
nacional, de exibirem seus filmes. Na sua opinião, o que está faltando para o
Brasil alavancar na produção de mais curtas e longas-metragens, a fim de não
deixar à desejar em relação a outros países?
Eu acho que tudo
tem a ver com qualidade. Quando a gente faz um trabalho de qualidade, a gente
sente que a receptividade é diferenciada. Por que se dar tanto valor às
filmagens estrangeiras? Porque, além de existir um cuidado maior, existe aquela
concepção de afirmar que “eu faço o melhor” ou “meu filme está à frente dos
outros”. O que eu acho que falta ainda no Brasil é acreditar no nosso taco. A
gente sabe que existe uma nova gama de meninos arrebentando. Será que essas
pessoas não estão tendo oportunidade? Na minha opinião, estão tendo sim. De
pouquinho em pouquinho, de degrau em degrau, nós chegamos lá. Veja por exemplo
o 6º Curta Taquary, que começou engatinhando. Eu fiz parte do júri da primeira
edição desse festival e percebo que, daquele tempo para cá, a coisa deu um
passo de 360 graus. Isso se chama qualidade. Quando hoje nós percebemos que as
produções de outros países vêm para cá, a gente pode perceber que as produções
brasileiras têm muito mais qualidade. O que falta então? Quanto ao incentivo,
nós estamos tendo. Precisamos mais? Lógico que sim, mas eu costumo dizer que
devemos usar corretamente os materiais que temos. Se você usa bem “usado”, a
coisa tende a chegar lá na frente. Eu digo também que o Brasil tem dinheiro
para tudo. Ninguém reclame de que nós não temos educação, cultura ou isso e
aquilo. Não temos, por quê? Porque quem administra o dinheiro deixa que isso
não aconteça. O dinheiro existe, mas para onde ele vai a gente não sabe. Quando
se realiza um festival como esse, por exemplo, a gente sabe que, para o nível e
qualidade do mesmo, o dinheiro recebido é uma migalha. Então o que está
acontecendo? Alexandre está pegando esse pouco e transformando em muito. Eu
digo que ele é como a galinha dos ovos de ouro. Então, a estrutura que ele está
dando ao pessoal é maravilhosa. Todo mundo está muito feliz e satisfeito, pois
não é em todos os lugares que temos uma estrutura a exemplo desta. Eu tenho
certeza de que a sétima edição do Curta Taquary não terá mais para ninguém.
Mais
Agreste – Como é receber o reconhecimento, em todo o Brasil, por parte do
público, dos fãs e daqueles que apreciam seus trabalhos dentro do cinema
nacional?
Tudo me surpreende.
Eu sou uma pessoa que vejo as outras iguais a mim. Eu costumo dizer que não
temos nada diferente um do outro. Então, não é pelo fato de estar fazendo um
filme ou porque deixei de fazer, pelo fato de eu estar recebendo uma homenagem
aqui ou no Rio de Janeiro, por exemplo, que eu sou melhor. A única coisa que
nos diferencia uns dos outros é o tempo. Por isso que eu aceito e abraço a
todos com a mesma naturalidade de quando eu estava em Caruaru. Eu nasci e sou
filha de Caruaru com muito orgulho, amo minha cidade, pois foi na minha terra e
raíz que tudo começou, e não lá fora. Então por que agora eu teria que
apresentar uma postura diferenciada? Jamais, porque, acima de tudo, eu sou
gente, quero continuar sendo gente e ver as pessoas perto de mim “iguais a
mim”.
Mais
Agreste – Prazeres Barbosa, muito obrigado pela entrevista concedida ao site
Mais Agreste. Esperamos que as produções locais, regionais e no âmbito nacional
continuem a crescer cada vez mais.
Amém. Eu fico feliz
e espero em Deus que continue com saúde, trabalhando. Estou agora filmando dois
longas e, para o ano que vem, temos novidades. Se Deus quiser, as coisas vão
acontecendo, porque ele quer. Eu acho que a gente não tem destino. Simplesmente
favorecemos para que as coisas aconteçam.
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