quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Entrevista: Prazeres Barbosa é homenageada no encerramento do 6º Curta Taquary


Por Igor da Nóbrega do Blog Mais Agreste

A 6ª edição do Festival Nacional de Curta Metragem está chegando ao fim, nesta sexta (8), com o sentimento de dever cumprido. Para se despedir em grande estilo do público, dos idealizadores, diretores, atores e demais realizadores da sétima arte, o Curta Taquary prestará uma homenagem à Prazeres Barbosa, uma dos principais ícones do cinema pernambucano. Ao lado de Jean-Claude Bernadet e José Dumont, a atriz de Caruaru, cidade do Agreste pernambucano, integrará o hall da fama deste ano, uma vez que seu trabalho é reconhecido, cada vez mais, diante das atuações cinematográficas, através de curtas e longas-metragens.
Através disso, Prazeres Barbosa conversou com o jornalista Igor da Nóbrega e expressou sua alegria em participar de um dos principais festivais de cinema do Nordeste. A atriz falou ainda do crescimento das produções locais e nordestinas, que, mesmo diante das dificuldades, conseguem imprimir trabalhos de qualidade e que não deixam à desejar em relação aos filmes produzidos em outros países.

Confira a entrevista na íntegra:
Mais Agreste – Como é viajar mais de 2.200 km e desembarcar no Curta Taquary, que é considerado hoje um dos principais festivais de cinema da atualidade?
Eu inicio dizendo que é muito bom voltar para casa, chegar em casa e ter o nosso travesseiro e cama para dormir. Isso é uma delícia e assim que eu considero Taquaritinga do Norte, que fica próxima a minha cidade Caruaru, no qual eu amo. Faço questão de dizer isso. Quanto à questão de ser homenageada e viajar tantos quilômetros, eu digo que cada momento é distinto. Em nenhum deles você deixa de ficar ansioso. Eu agora mesmo estava pensando nisso, numa ansiedade do momento, de ser privilegiada. Eu sempre digo que bem aventurado o ser humano que tem a capacidade de elogiar ou homenagear quem está vivo. Ser homenageada em vida dá um significado para sua existência na terra e é assim que eu me sinto. Eu me sinto mais gente, eu me sinto mais querida, eu me sinto mais amada, porque existem pessoas que acumulam dinheiro. Outros acumulam coisas materiais, mas eu optei por acumular “amigos” e é por conta disso que as coisas acontecem.

Mais Agreste – Como foi receber o convite, através de Alexandre Soares, para ser homenageada no encerramento do 6º Curta Taquary?
Eu questionei a Alexandre de que não merecia esta homenagem. Eu não acho que mereço tanto, pois será uma homenagem muito grande para uma pessoa que não tem tanta notabilidade. Contudo, segundo Alexandre, eu faço parte do universo artístico de Pernambuco. Segundo ele, é porque eu estou num momento bom artisticamente. Segundo ele, eu sou uma pessoa que conseguiu cativá-lo, como também outras pessoas. De antemão, mesmo achando que não mereço, eu agradeço de coração e espero não decepcionar, porque uma das melhores coisas do mundo é alguém acreditar e confiar em você, sem nunca se arrepender disso.

Mais Agreste - Quanto à estética e produção, você acredita que os filmes locais e nordestinos têm ganho uma conotação expressiva, nos últimos anos, frente ao cinema nacional?
Eu acho que o cinema nacional está embarcando para uma vertente maior e melhor. Durante os três dias que venho acompanhado o festival, o que eu percebo que existe uma surpresa e uma técnica diferente em cada momento. Existe ainda uma aproximação mais perto do “silêncio”. Eu sou o tipo de atriz que privilegio o silêncio à palavra. Na oficina em que ministrei aqui no Curta Taquary, na segunda e terça-feira, eu chamei o silêncio das palavras. Ontem eu fiquei embevecida quando eu vi aqueles filmes tão bem produzidos, com tão pouca fala, mas tão bem feitos. Enfim, naquele momento, algo dentro de mim me disse que eu estava trilhando no caminho certo. Estou feliz porque o cinema brasileiro, seja curta ou seja longa, está tendo uma nova temática de exploração. Nós estamos partindo para problemas sociais, de uma forma limpa, de uma forma clara, e é disso que o Brasil precisa assistir.

Mais Agreste - Na edição do Curta Taquary deste ano, Alexandre Soares oportunizou outros Estados, que não têm tanta projeção frente ao cinema nacional, de exibirem seus filmes. Na sua opinião, o que está faltando para o Brasil alavancar na produção de mais curtas e longas-metragens, a fim de não deixar à desejar em relação a outros países?
Eu acho que tudo tem a ver com qualidade. Quando a gente faz um trabalho de qualidade, a gente sente que a receptividade é diferenciada. Por que se dar tanto valor às filmagens estrangeiras? Porque, além de existir um cuidado maior, existe aquela concepção de afirmar que “eu faço o melhor” ou “meu filme está à frente dos outros”. O que eu acho que falta ainda no Brasil é acreditar no nosso taco. A gente sabe que existe uma nova gama de meninos arrebentando. Será que essas pessoas não estão tendo oportunidade? Na minha opinião, estão tendo sim. De pouquinho em pouquinho, de degrau em degrau, nós chegamos lá. Veja por exemplo o 6º Curta Taquary, que começou engatinhando. Eu fiz parte do júri da primeira edição desse festival e percebo que, daquele tempo para cá, a coisa deu um passo de 360 graus. Isso se chama qualidade. Quando hoje nós percebemos que as produções de outros países vêm para cá, a gente pode perceber que as produções brasileiras têm muito mais qualidade. O que falta então? Quanto ao incentivo, nós estamos tendo. Precisamos mais? Lógico que sim, mas eu costumo dizer que devemos usar corretamente os materiais que temos. Se você usa bem “usado”, a coisa tende a chegar lá na frente. Eu digo também que o Brasil tem dinheiro para tudo. Ninguém reclame de que nós não temos educação, cultura ou isso e aquilo. Não temos, por quê? Porque quem administra o dinheiro deixa que isso não aconteça. O dinheiro existe, mas para onde ele vai a gente não sabe. Quando se realiza um festival como esse, por exemplo, a gente sabe que, para o nível e qualidade do mesmo, o dinheiro recebido é uma migalha. Então o que está acontecendo? Alexandre está pegando esse pouco e transformando em muito. Eu digo que ele é como a galinha dos ovos de ouro. Então, a estrutura que ele está dando ao pessoal é maravilhosa. Todo mundo está muito feliz e satisfeito, pois não é em todos os lugares que temos uma estrutura a exemplo desta. Eu tenho certeza de que a sétima edição do Curta Taquary não terá mais para ninguém.

Mais Agreste – Como é receber o reconhecimento, em todo o Brasil, por parte do público, dos fãs e daqueles que apreciam seus trabalhos dentro do cinema nacional?
Tudo me surpreende. Eu sou uma pessoa que vejo as outras iguais a mim. Eu costumo dizer que não temos nada diferente um do outro. Então, não é pelo fato de estar fazendo um filme ou porque deixei de fazer, pelo fato de eu estar recebendo uma homenagem aqui ou no Rio de Janeiro, por exemplo, que eu sou melhor. A única coisa que nos diferencia uns dos outros é o tempo. Por isso que eu aceito e abraço a todos com a mesma naturalidade de quando eu estava em Caruaru. Eu nasci e sou filha de Caruaru com muito orgulho, amo minha cidade, pois foi na minha terra e raíz que tudo começou, e não lá fora. Então por que agora eu teria que apresentar uma postura diferenciada? Jamais, porque, acima de tudo, eu sou gente, quero continuar sendo gente e ver as pessoas perto de mim “iguais a mim”.

Mais Agreste – Prazeres Barbosa, muito obrigado pela entrevista concedida ao site Mais Agreste. Esperamos que as produções locais, regionais e no âmbito nacional continuem a crescer cada vez mais.
Amém. Eu fico feliz e espero em Deus que continue com saúde, trabalhando. Estou agora filmando dois longas e, para o ano que vem, temos novidades. Se Deus quiser, as coisas vão acontecendo, porque ele quer. Eu acho que a gente não tem destino. Simplesmente favorecemos para que as coisas aconteçam.

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